quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Entre aspas: "Os rios de Bauman"

Este assunto não é novíssimo, tampouco o vi justo agora. Ouvi um comentário há meses atrás sobre "a sociedade líquida" e me interessei.
"Na modernidade - ou sociedade - líquida, tudo é volátil. As relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto, casais, grupos de amigos, afinidades políticas, entre outros perde consistência e estabilidade."

Bauman entra em diversas vertentes do nosso cotidiano que transformou-se de sólido para líquido. Sociedade líquida, modernidade líquida, amor líquido são assim nomeados por ele fazendo uma relação com a água e sua capacidade de transformação rápida de um estado a outro, como exemplo aqui, de sólido para líquido. Decidi, no entanto, optar por focar somente nas relações de amor - ou quase isso.
Com nossos ancestrais, podíamos perceber, quase num todo, a durabilidade das coisas, das relações. Mas não credito este aspecto como algo sagrado, único modelo bom e que deve ser seguido por todos. Tinham-se raízes mais fortes, costumes mais arraigados e a liberdade não era tão difundida. Nosso libertismo hoje, porém, é forte. Pode ser isto que faz nossas novas relações absterem-se quase 100%. Ou, acostumados a rotina laboriosa, constante e rápida, inevitavelmente aceleramos também nossos relacionamentos. Enjoamos fácil e por isso descartamos tão rápido quanto preenchemos o espaço vazio desse descarte. Substituímos também por medo de sermos substituídos, afinal, existem produtos supostamente melhores que o nosso.
Nossos antepassados tinham o prazer pelo progresso e por isso viam nisto algo melhor, mais sólido. Hoje, nos amedrontamos com essa concepção. Temos medo do progresso e por isso o tomamos como uma correnteza forte que podemos ser jogados a qualquer momento para até nunca mais.
A problematização no amor líquido - englobemos cá todos os tipos de amor - está na possibilidade de cambiação por algo que cremos ser melhor do que o que temos. Segundo Bauman, estamos querendo substituir qualidade por quantidade - o que nunca se consegue.
Explicito neste que concordo com Bauman em muitas coisas. Também não generalizo dizendo que todos nós vivemos exatamente desta liquidez, mas sofremos com ela sim e podemos aplicá-la, mesmo sem perceber - tanto porque acho que faço parte da pequena porcentagem que preza em alto grau pela solidez, mas que posso ter sido pega ou vou ser pega por uma onda quente em algum momento e vou transformar sólido em líquido.
"É um mundo de incertezas e cada um por si." Não creio que se encontre satisfação eterna mudando constantemente de galho por causa da vista que, vez ou outra, não é tão boa quanto no galho de cima, ou no do lado. Concordo também que, com a solidez, para algumas pessoas, sua liberdade é excluída em quesito de poder de escolha, mas Bauman diz que "...Além disso, o valor de um relacionamento é medido não só pelo que ele oferece a você, mas também pelo que oferece ao seu parceiro. O melhor relacionamento imaginável é aquele em que ambos os parceiros praticam essa verdade." e que "... o amor não é um 'objeto encontrado', mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade."
Para finalizar, encerro com perguntas que ando me fazendo constantemente e acho importante: O que será de nós quando tivermos 50 anos? Quem seremos? Como estaremos?

(postado originalmente em Liberdade Inquieta).

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