Ainda lembro de
quando todos os dias eram nublados, meu humor dos piores e qualquer fresta do
sol que ousava passar pela janela era rapidamente vedada. Lembro dos
intermináveis conselhos que todos me davam e do quanto eu odiava ouvir dizer
que o sentimento tempestuoso que habitava em mim passaria, eu não queria
deixá-lo passar, meu orgulho não deixava.
Depois de muito
murro em ponta de faca, várias noites chorando sem dormir, acordei um dia com
as minhas orações atendidas, por mais que eu pedisse para Deus que me trouxesse
você de volta, no final de todas elas, eu entoava "mas se ele não for o
certo, tire isso de mim", e tirou. O "pronto, passou!" que todas
as mães dizem pós soprar o machucado, agora fazia sentido, muito mais do que quando
eu era criança e me ralava inteira.
Eu que sempre fui
dramática, resolvi que era hora de parar de sofrer, colei os cacos e voltei a
ter um coração, agora com vidros blindados. Apesar de tudo, não desejo o mal de
ninguém, espero que esteja bem, mesmo longe, mesmo não sendo 'meu', até porque
nunca foi.
Finalmente me
sinto livre, para ser minha, para não ouvir minha consciência gritando o seu
nome que antes me paralisava e agora não me causa nada, nem ao menos raiva, ciúme, nada. É hora de fazer besteiras vez ou
outra, a vida é uma só e eu demorei muito para me dar conta disso.
Assumo meus erros
e meus defeitos, mas como já dizia minha mãe e todo o clichê do universo:
"não era para ser", e eu lutei, fiz o que pude, briguei com quem não
pude e não me arrependo de nada, eu gostava da instabilidade que o seu amor, ou a falta dele, me
trazia, apesar de você insistir em dizer que eu ainda nem sabia o que era amor,
sabia sim, sempre soube, mas apostei minhas fichas na pessoa errada.
Agora
deixo o sol entrar, faço uma faxina pra dissolver e recompor, até o infortúnios
tem o seu valor, por tanto a gratidão jorra pela fonte do meu coração...
Boas coisas você
me deixou, além de um enorme aprendizado, estragou algumas músicas que eu gostava,
mas tudo bem, de uma forma ou de outra, jamais posso negar para mim mesma que fizeste parte da minha vida, mesmo sendo talvez a pior parte até agora.
Já me disseram para guardar os bons momentos, esquecer os ruins, mas ainda assim abafar todos os "bons", apenas para não ter perigo de uma recaída. Porém, depois de tantas recaídas, aprendi a me levantar, quem cai sete, levanta oito, já dizia Tiago Iorc e Cartola nunca deixou de me alertar sobre o cinismo que eu herdaria desse amor. Mas o mundo é um moinho, mesmo com toda minha atenção, me deixei levar, agora não mais. Dissolvido, recomposto e passado, és o que sobrou de você em mim, nada.
This is the last
time and I don't give this heart of mine.
Fernanda Costa